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sábado, 27 de junho de 2015

O Mahabarata- Literatura Indiana


          “A Grande História dos Bharatas”, como se traduz seu título, é o principal épico religioso da civilização indiana – e também o maior poema de todos os tempos, com cerca de 200 000 versos. Só para ter uma idéia, isso equivale a sete vezes a soma da Ilíada com a Odisséia, os dois épicos atribuídos ao poeta grego Homero que inauguraram a literatura ocidental. Em sânscrito, bharatas queria dizer originalmente “saqueadores”, termo que deu nome às tribos arianas que teriam ocupado a Índia em torno de 1700 a.C. (invasão hoje contestada por muitos historiadores). O livro só ganhou sua forma definitiva no século II d.C., mas acredita-se que a maioria dos versos foi compilada no século IV a.C. – apesar de serem bem mais antigos na tradição oral, como quase todos os textos religiosos. A coletânea é creditada ao sábio Vyasa, personagem mítico considerado o autor de outras escrituras sagradas do hinduísmo, como os Vedas e os Puranas.
          O Mahabharata narra a guerra entre Pandavas e Karauvas – duas famílias com laços de parentesco muito próximos – pela posse de um reino no norte da Índia. Os momentos que antecedem o confronto final, conhecido como Batalha de Kurukshetra (cidade dessa região), compõem o trecho mais famoso do poema, conhecido como Baghavad Gita (“Canção do Divino Mestre”). É quando o príncipe Arjuna, em crise de consciência por estar combatendo amigos e familiares, cogita desistir da luta e entra em diálogo com o deus Krishna, que o convence que aquela guerra faz parte do destino do seu povo e não pode ser evitada. A ética do guerreiro é, aliás, uma questão central no livro, retratando uma época em que as batalhas entre os indianos seguiam regras surpreendentes nesse sentido: um soldado montado em um elefante, por exemplo, não podia atacar quem estivesse a pé. Da mesma maneira, um homem que estivesse fugindo ou tivesse perdido suas armas não podia ser preso, ferido ou morto.
          Os confrontos acabavam rigorosamente ao pôr-do-sol, pois à noite havia confraternizações entre os soldados de ambos os lados. Apesar disso, a Batalha de Kurukshetra teria sido uma sangrenta carnificina da qual, após 18 dias de conflito, teriam restado apenas cinco sobreviventes para perpetuar a dinastia dos Pandava.

Fonte: super.abril.com


segunda-feira, 15 de junho de 2015

Anaíldes- Parte II



                            

                                            Praça Tamandaré


                                   Eu sentado no banco da praça
                                   Em frente ao coreto
                                   Programa Sem graça
                    
                                   É o pai com a criança
                                   A senhora com a bolsa
                                   É o homem fumando um cigarro
                                   Correndo... É O ÔNIBUS
                    
                                   A moça grávida de rosa
                                  Que graça!
                                  O brigada passa a mão no uniforme
                                  Tem gente na torre de microondas
                                  O lago continua sem ondas

                                  Leões brigam no túmulo do Bento
                                  Geribanda  agora é só pensamento
                                  O monumento ao Tamandaré
                                  Napoleão continua de pé.(#)


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            A amizade entre D. Pedro II e o Marquês de Tamandaré(Patrono da Marinha do Brasil) aumentou após um acidente ocorrido em 1849, quando o imperador visitou a esquadra estacionada no Rio de Janeiro e caiu no mar ao passar de um barco para o cais. Tamandaré e um ajudante salvaram o imperador. Uma quadrinha popular eternizou o episódio: 
                                                          
                                                   “Sua majestade no arsenal,
                                                     caiu n’água, foi ao fundo
                                                     e todos os peixes gritaram:
                                                     Viva Dom Pedro Segundo
                                                     Logo, vivo como peixe,
                                                     Não se deixou cair a ré.
                                                     Do pouco bondoso banho,
                                                     Salvou-o Tamandaré.

               
                Em 1865 a Câmara Municipal do Rio Grande, em sua homenagem, denominou a maior praça do interior do Rio Grande do Sul de Tamandaré, onde existe um monumento à sua memória. Sua data de nascimento , 13 de dezembro, é comemorada como o Dia do Marinheiro.
                           
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                  Foi exatamente nesta praça, em cima do magnífico coreto de pedra ali construído, que Anaíldes discursou pela primeira vez como candidata á vereança rio-grandina.
                 Chamando atenção pela sua beleza (usava uma justíssima calça corsário preta e um pequeno top vermelho de algodão), ela apresentou-se formalmente à população colocando-se á disposição da coletividade. Estava acompanhada por cerca de 7 cabos eleitorais recrutados dentro do seu vasto círculo de amizades.
                No centro da cidade, poucos até então conheciam-na, pois raramente era vista á luz do dia.
                Não bastasse o visual apropriado para chamar a atenção masculina, o pseudônimo que usou para registrar a sua inscrição ao pleito foi uma bomba em cheio no conservadorismo da cidade: “Saputinha” era um nome que despertava muitos comentários na sociedade rio-grandina e suas subdivisões.
                Várias foram as ações que entraram na Justiça Eleitoral visando impugnar a sua candidatura, mas nenhuma delas teve embasamento legal para obstruir sua corrida ao Legislativo Municipal.
                A campanha decolou no decorrer do processo eleitoral, chamando atenção pelo tom franco e aberto impresso no discurso. Repetia freqüentemente suas influências e predileções, colocando “uma transa bem legal” entre as coisas que mais apreciava na vida.


                             Sa –sa -sa putinha
                             É saputinha para o Rio Grande mudar ,     
                             Sa- sa- sa putinha
                             A Saputinha ainda tem muito para dar

                             Ela é de guerra e não foge da raia
                             Não usa terno, mas anda de mini-saia
                             Essa cidade ta pedindo por mudança
                             E Saputinha é nossa única esperança


                  O célebre músico, professor, arranjador e compositor rio-grandino “Tiquinho”, foi quem compôs o hino da campanha, recebendo dela a promessa de apoio para a gravação do seu 1º LP, “Queixas de um pescador”. Sua cotação andava em alta na cidade, pois vencera, em quatro edições consecutivas, o festival “Balança Rio Grande”, um verdadeiro celeiro para os talentos da terra.
                  Saputinha conseguiu despertar as esperanças do eleitorado masculino, usando e abusando de astúcia e sensualidade. A crescente popularidade que foi conquistando, contrariou a muitos.   

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                   Ao contrário do que muitos imaginaram, Ilton Freitas Kupinski não se conformara mansamente com a traição de Anaíldes. Ao vê-la formosa e insinuante durante a sua campanha eleitoral, quis novamente possuí-la.
                   Bolinha descobrira, após a dissolução da união, que a bugra criara mais uma alcunha para designá-lo entre suas colegas de chimarrão; “Ladinho”. Segundo a então potranca de 20 anos, Ilton não era nem um pouco criativo na hora do amor.

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                  Certa vez, Sá, quando retornava pra casa ao término do expediente na Cafôfu, mandou o motorista do táxi, Sirênio Luiz da Silva, brecar em frente ás instalações do Frigorífico e Abatedouro Anselmi, na Av. Portugal. Teve atenção despertada por um saudável jovem de tez morena e longa  trança em seus cabelos negros. Enquanto um caminhão transportando quadrúpedes para o abate cruzava o pórtico de entrada da indústria, o rapaz segurava uma cartaz escrito em letras garrafais:

                    AS VACAS SÃO PARA DAR LEITE
                          PROTEÇÃO Á ELAS

            Comenta-se que Anaíldes começou a modificar certos hábitos seus á partir daquele dia. O motorista, que a conhecia bem, estranhou o seu silêncio durante todo o restante do trajeto até  sua casa na Rua Caldas Junior, próximo á Caixa D´agua da Hidráulica.
    
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             Há 3 dias da eleição, após tomar “uma” para cumprir as ameaças que andava fazendo á ex-mulher, Bolinha carregou o seu Taurus calibre 38 para num comício perto da garagem da empresa Xavante, tentar raptá-la ou até mesmo matá-la se houvesse resistência. Ao deslocar-se a pé para o local, acabou encontrando um antigo desafeto de uma briga no bar Povo Novo. O inimigo, mais ágil e robusto, apoderou-se da arma e fez 3 disparos em cada uma das mãos do açougueiro, deixando-o incapacitado para o exercício de seu ofício sanguinário.
            A surpresa maior daquele dia ainda estava por vir, pois Anaíldes Donato Quaresma não compareceu ao comício de encerramento da sua própria campanha e nunca mais foi vista na cidade. Partiu apenas com alguns pertences pessoais. Não deixou bilhete ou indício algum de seu destino para saciar a curiosidade daqueles que ficaram...

            “Na cidade do Rio Grande, nesse espaço público de sonhos e de desesperanças, onde o porto domina o espetáculo e a linha do horizonte vai, aos poucos, engolindo os navios como o sexo de uma rainha louca e faminta”. (#) 

          
                                  
                                  (#) Poesias e citação extraídas do livro Forte Jesus-Maria-José, do 
                                                     poeta rio-grandio Victor Hugo G.Rodrigues- Editora Edicon


                                  FIM
                                      

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Anaíldes- Parte I

           
Pórtico entrada cidade de Rio Grande

   
   Ao final do mês de junho, Rio Grande celebra a data festiva do seu padroeiro, São Pedro e eu, filho desta terra, aproveito a oportunidade para presentear os leitores com "Anaíldes", conto-crônica extraído do meu primeiro livro (Utopias Papareias), que homenageava com crítica e bom humor a cidade mais antiga dos gaúchos. Para quem ainda não conhecia a minha produção literária pré "O Grande Pajé" eis aqui uma oportunidade ímpar de vasculhar os primeiros rabiscos deste despretensioso escritor.
   Deixo-lhes, pois, com Anaíldes.Uma boa degustação literária à todos.


Praça Xavier Ferreira
  


‘’Ao nos voltarmos para o próprio passado, conviria começarmos com um piedoso tributo a nossos desconhecidos ancestrais(ágrafos), que mediante um esforço inconcebivelmente árduo e engenhoso, lograram êxito na criação de uma raça humana. Couberam a eles as descobertas e invenções cruciais, como o instrumento, a semente , o animal doméstico e a criação da agricultura. Criaram um instrumento maravilhoso, a linguagem, que permitiu ao homem descobrir seu caráter humano e, finalmente, disfarçá-lo. Lançaram os alicerces da civilização: sua vida econômica, política e social, suas tradições artísticas, éticas e religiosas. Com efeito, nossos antepassados ‘selvagens’ ainda se acham muito próximos de nós, e não somente em nossa capacidade de selvageria. “
 

                                                                                               Herbert J. Muller


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                          “Tetos de erva, paredes de pântano
                            nome de vila e construção de aldeia,
                            quase coberta de volante de areia
                            dos cômoros que aqui crescem todo o ano:


                            Brisas do vento leste e minuano,
                            De moscas, pulgas, bichos é bem cheia;
                            Não sei quem tanto inseto aqui semeia
                            Para causar ás gentes nojo e dano!


                            De pé um diminuto batalhão
                            De cavalo os dragões mais esforçados,
                            De voluntários uma legião


                            Dizem que há nos campos muitos gados;
                            Esta é do Rio Grande a habitação
                            Onde purgando estou os meus pecados


                                                                              *Soneto de autor desconhecido,
                                                                                publicado em 1816, na cidade
                                                                                 de Lisboa, que retrata a
                                                                                 amarga vivência de seu
                                                                                 autor na Vila do Rio
                                                                                 Grande poucos anos
                                                                                  antes.

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             A cidade de Rio Grande nasceu brigando para conquistar  seu ar, seu lugar, sua glória. Está erguida sob o sangue da implantação da primeira fortificação a demarcar o solo rio-grandense do castelhano; em 1737. O Forte “Jesus-Maria-José”, depois de marchas e contramarchas, por fim, afirmou-se com o brigadeiro José da Silva Paes.
             Em 11 de dezembro de 1737, Silva Paes transmitiu o governo do Rio Grande ao Mestre de Campo André Ribeiro Coutinho o qual se manteve no cargo até 22 de dezembro de 1740.
             Nascido em Lisboa em 1680, Coutinho foi o segundo governador do Rio Grande, tendo participado da ocupação oficial da margem sul do Canal do Rio Grande em fevereiro de 1737.
             Numa carta á um amigo de Portugal, datada de setembro de 1737, Coutinho relatou o cenário da ocupação lusitana na atual cidade do Rio Grande. Foram os primórdios do povoamento cercado por imensas dificuldades que foram minimizadas por Coutinho. Rio Grande e cercanias são o cenário para o relato que exalta a produtividade agrícola da terra, a presença de insetos no verão, de umidade e vento no inverno e da falta de tudo para a vida cotidiana e para o luxo.

                 
   *Artigo publicado em 10/10/03  num encarte cultural do Jornal Agora                                                                       
                                                                           


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           Quando de sua visita a Rio Grande, o Imperador D. Pedro II ficou hospedado no prédio atualmente localizado na Rua Marechal Floriano nº 33. O proprietário era Eufrásio Lopes de Araújo, nascido na Vila do Rio Grande de São Pedro em 01 de janeiro de 1814. Em 1846 Eufrásio casou na cidade do Rio Grande com Maria Joana Vieira, nascida também em Rio Grande em 1819.
             O prédio da Rua Marechal Floriano nº 33, que foi o Paço Imperial por alguns dias, concentrou parte da mobilização que a sociedade local realizou saudando a permanência do Imperador na cidade do Rio Grande. O parapeito de grades de ferro ainda está preservado como testemunho de um espaço da cultura política local internacionalizada neste período de guerra.(Guerra do Paraguai//1865-1870). A edificação se situa no entorno histórico do Sobrado dos Azulejos, Hotel Paris, Centro Municipal de Cultura e Praça Sete de Setembro,(área esta apontada por muitos historiadores como o local de construção do Forte Jesus-Maria-José).
                 O prédio demarca um pouco do imaginário do período Imperial da História do Brasil, com seus personagens e estéticas culturais ligadas a Monarquia no contexto da Guerra do Paraguai.

                                                                        *Artigo publicado em  26/09/03
                                                                          num encarte cultural do Jornal
                                                                          Agora.


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                     Graças a colaboração de 2 abnegados historiadores do sul do Estado, hoje sabe-se que o referido endereço também foi cenário de outras histórias na segunda metade da década de 60, tendo como locatária a Senhora Sidalva Laviaguerry Salomão, conhecida na boemia rio-grandina como “Sissí”.
                     Por motivos ainda ignorados, o fato permanece até hoje oculto dos registros oficiais presentes nos arquivos da Biblioteca Rio-Grandense. Tudo o que sabe-se á respeito provém de uma meticulosa pesquisa realizada em meados de 1995 pelo casal de historiadores Adão Nataniel Fonseca e Tânia Sharlene Fonseca, conhecidos na comunidade acadêmica como “Negro & Negra”. Após fotografarem todo o entorno histórico localizado naquela zona da cidade, tiveram eles, por razões pessoais, a atenção despertada para o referido prédio. À partir de então, não mediram esforços para descobrirem o histórico completo do imóvel.
                   Os relatos transcritos á seguir foram extraídos dos diversos depoimentos colhidos junto a pessoas que direta ou indiretamente conheceram as paredes internas do “Cafôfu”, estabelecimento noturno da Marechal Floriano, 33.
                   Como fonte de pesquisa foram também utilizados alguns exemplares do  extinto jornal alternativo “Denúncia”, do saudoso escritor e jornalista Renan Nogueira Pinto, o “Xinxa”.




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                     Cafôfu    

“Os luminosos de minha infância,
Ainda são marinheiros
Saem pela cidade inquieta,
Deslizam por night clubs
Procuram um duelo com outros olhos
Tão inseguros... tão sedentos
por um corpo qualquer
De uma bela mulher.”

                     Discrição e  prazer
                                                        são os nossos pilares.
                    
          Sissi
     F: 32323874
                                   
 
                                                       * Modelo de um cartão impresso em 1966



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          Xinxa, desde os tempos de UCPEL(Universidade Católica de Pelotas) sempre fora um polêmico e excluído. Mesmo sem patrocínio ou apoio de colega algum, começou a distribuir pessoalmente, sem qualquer ônus ao leitor, o seu jornal alternativo comprometido exclusivamente com os fatos sigilosos ou pouco divulgados na mídia da cidade Noiva do Mar. Foi ele o pioneiro na busca por informações mais detalhadas sobre o histórico imóvel que abrigou o imperador em sua curta visita a Rio Grande no século XVIII.
            Para tal, o jornalista rastreou os passos dos possíveis herdeiros do proprietário original da construção tipicamente européia, Eufrásio Lopes de Araújo. Acabou posteriormente chegando à uma rapariga que dizia-se ex- colega da tataraneta de Maria Joana Vieira, a matriarca da família. Os seus relatos foram preciosíssimos para o transcurso  da pesquisa conduzida por Xinxa, que antes de desaparecer misteriosamente em 1990, publicou muitas poesias em seu “Denúncia.”

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                                       High Society


                     Mas que bonito o vestido novo da madame
                      Deve ser mais um modelito da capital
                      Já reparaste no penteado
                      Aquele cara acompanhado é casado
                      Aqueles dois ali sorrindo amarelo
                      Só para sair no “Peixeiro”(*)
                      No smoking gastei todo o meu dinheiro
                      Agora vou falar de novela
                      Agora vou falar do meu time
                      Agora vou falar da bela
                      Agora vou dizer muitas bobagens
                      Agora vou disfarçar coisa séria
                      Pois nada melhor que mentir
                      Longe da miséria

                      A família do fulano já foi para o SPA
                      Eu também já vou já
                      As senhoras de boa plástica
                      As senhoras fazem regime
                      Um quilo de doces e uma coca diet
                      Para disfarçar o crime
                      O colunista futurista
                      Ensaia sua pose de artista
                      Ele toma sua Sprite
                      Tudo ao seu redor é light
                      É diet, é high
                      É high society                                                  
                                                                               (*)Jornal rio-grandino.  (#)
                                                                              
                    

                 


          Sidalva Laviaguerry Salomão, a “Sissí”, quis abocanhar uma gorda fatia do mercado do sexo com seu discreto e muito bem camuflado Cafôfu. Investia nas melhores e mais jovens meninas da cidade, garantindo assim a preferência dos cinquentões, sessentões e setentões que freqüentavam em massa a casa. Nomes de políticos, juristas e empresários influentes no município deixaram as suas marcas no livro de presenças daquele quase secreto inferninho, dançando nus, excitados e ébrios ao som de Ray Coniff, Tony Bennett e Frank Sinatra
           Fez parte do corpo funcional da boate, por cerca de seis meses e meio, a dançarina “Sá”, uma pequena e roliça bugra de olhar atrevido, aguda percepção e eloqüência verbal com os homens. Tal mulher veio á protagonizar uma das histórias mais intrigantes que a saga do povo gaúcho já escreveu. Foi criada até os dezoito anos de idade pelo avô, Lourival Simplício de Almeida Quaresma, o ‘’Xucro”, produtor rural de muito poucas palavras e avesso à relações com parentes ou colegas.
            Seu nome chegou a ser mencionado em alguns periódicos uruguaios e argentinos, contudo foi abafado até mesmo das conversações populares em sua terra natal.
           Bastaram apenas alguns meses no ramo para Anaíldes Donato Quaresma perceber o quanto realmente conseguia envolver homens em sua teia.
           Aos dezenove anos casou-se com Ilton Freitas Kupinski, o “Bolinha”, morador do distrito do Povo Novo e proprietário de um açougue que receptava carne proveniente de abigeato.
            Com 20 anos, sem que Bolinha sequer desconfiasse, tramou a sua fuga com o vizinho ao lado, com quem há muito tempo já vinha “curtindo”, fixando-se na periferia de Rio Grande. Segundo testemunhas oculares do drama, Ilton chorou como uma criança angustiada ao finalmente constatar que fora traído.          
              Sabe-se que pouco mais de 2 meses acabou durando o apaixonado caso amoroso.

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             A sua vida na cidade foi pontilhada de enganos e desenganos. Perambulou pela indústria do peixe antes de optar pelo trabalho noturno com Sissí. Tinha fibra e ambição para almejar degraus a mais em sua trajetória pessoal. Interessou-se pela política e traçou metas para adentrar nos bastidores do poder, Foi estabelecendo intercâmbios com líderes comunitários em Associações de Bairros, intermediando as reivindicações deles com o Executivo Municipal.


Molhes da Barra









Continua na próxima postagem.